Você não pode tocar com cordas quebradas
Este último final de semana, eu estava em casa
dando uma arrumada nas coisas, e coloquei um CD com algumas músicas que gosto,
e ao ouvir “Broken Strings” do James Morrison com a Nelly Furtado,
inevitavelmente refleti sobre o quanto somos apegados ao que já se quebrou.
Tentamos ainda tocar com cordas que já se arrebentaram, como se fosse possível
tirar delas algum som, ou ainda, alguma nota que seja familiar.
O que nos leva ao apego? O apego por alguém que já
se foi? O apego pelo trabalho que adoece, ou não faz mais sentido? O apego pelo amor que se esvaiu? O
apego pelo status? O apego pela luta? O apego pelo sofrimento? Ouvindo “Broken
Strings”, pensei em todas as cordas que se arrebentaram também na minha vida, e
que inevitavelmente eu tive que abandonar os acordes porque era impossível
obter ainda algum som vivo daquela situação, e tive que entender que era assim,
afinal, não é possível tocar com uma corda quebrada. Me vi, olhando para
pessoas admiráveis, que também viram que suas cordas não faziam mais som, e
entenderam que esfolar os dedos tentando não era mais uma opção, e assim
seguiram, fazendo música com a vida, tentando outros sons e outros acordes, que
não deixam ser especiais e belos.
Saber que não é possível tocar com cordas quebradas, é compreender que
algumas situações da vida se encaminham também para uma ruptura, que pode ser
em qualquer área. Posso tentar ainda tocar as cordas de uma amizade que já não
faz mais sentido, posso tentar tocar as cordas daquela profissão que escolhi
aos 17 anos, e que hoje, ou talvez nunca tenha me representado, posso tentar
tocar as cordas de um amor impossível, ou de um amor que não existe mais,
tentando arranhar acordes que não se formarão, tentando ouvir um som que
acalente a tristeza da ruptura das cordas, mas pra quê? Arrebentar uma corda na vida, talvez
seja a mudança que precisamos, cordas quebradas precisam ser trocadas, ou não
se tem mais som. Quando as cordas estão ruins e não se quebram, você pode não
enxergar que elas precisam ser substituídas, às vezes, vai se contentando com
sons desafinados, mas quando elas quebram, não tem jeito, você vai precisar
parar, olhar para essas cordas e trocá-las. Assim, é na vida, situações
quebradas, precisam de algo novo, para que você possa continuar a ouvir a
música. Talvez precise ser algo novo em folha, ou talvez, o mesmo reinventado,
quem sabe.
Insistir em tocar cordas quebradas, é apego. E como
somos apegados (eu, me incluo nessa). Soltar, deixar ir, trocar as cordas é um
exercício muito difícil. Requer autoconhecimento, empatia. Soltar a situação é
entrega. Entrego, confio, aceito, agradeço. Tem uma frase da monja Tenzin Palmo
que é a seguinte: “...apego não é amor verdadeiro, apego é só amor a si mesmo.”
Só que esse amor a si mesmo, não é aquele positivo, é aquele que faz você achar
que sem aquela coisa, sem aquela situação, sem aquela pessoa é impossível dar
continuidade, é o amor baseado no medo, o medo que faz você insistir no que
quebrou.
Eu espero que você consiga trocar as cordas que se
quebraram com equilíbrio, inteligência, carinho, empatia. Espero que eu também
consiga fazer isso com as cordas que se quebram na minha vida, e que juntos
possamos compor novas canções, canções que preencherão corações completos e
afinados, talvez, embalados por músicas diferentes, mas sempre em busca do
melhor som.
Ouça a música do James Morrison com a Nelly
Furtado, e leia a legenda também :)
Sorte pra todos nós!
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